Snagov não é só um lago

09/18/2021 9:05 am Publicat de Cristina Nițu , ,

Viver na cidade é cansativo. Lidar com o stress constante, a azáfama do dia a dia, o barulho que se ouve através da janela da sala, o trânsito que dá cabo dos nervos a qualquer um, a pressa que todos têm, a pressão do trabalho… tudo isto nos faz pedir um momento de descanso. A vida, por vezes, pede-nos calma.

Apesar de Bucareste ter alguns parques agradáveis, a poluição infelizmente faz-se sentir, assim como a sua sobre povoação. Pode dar-se um passeio por Herăstrău ou Cișmigiu, mas a tranquilidade é difícil de alcançar de forma plena, de maneira a nos sentirmos rejuvenescidos e prontos para continuar a vida na cidade sem grandes perturbações.

É importante descansar e sair do ambiente citadino para arejar a cabeça, e foi isso que resolvi fazer num domingo solarengo no quente mês de agosto. O destino foi perto, perfeito e uma adorável surpresa: o lago Snagov.

Não é preciso percorrer muitos quilómetros para se começar a sentir o ar a purificar, a ficar mais e mais leve à medida que nos afastamos da capital romena. Bucareste fica para trás e a paisagem transforma-se: mais verde, mais calma, menos povoada. São cerca de quarenta quilómetros que separam a cidade deste tranquilizante espaço, meia hora de carro que passa num piscar de olhos e que nos faz aperceber que não há razão para ficarmos enclausurados num centro urbano sem poder respirar o ar puro do campo de forma frequente. Para o bem da nossa saúde – tanto física (se dermos umas boas braçadas no lago ou um passeio a pedais pelos trilhos da floresta) e mental (se conseguirmos abstrair-nos completamente do stress que nos ocupa as vidas).

Esta foi a primeira lição da minha ida a Snagov – que não é necessário viajarmos durante horas a fio ou ir até às Caraíbas para encontrar o paraíso. Ele está perto.

Um romantismo que nos preenche a alma

Quando entramos na área florestal de Snagov, a estrada principal desvanece através do retrovisor e afundamo-nos entre árvores de todos os tipos, uma floresta que parece ter saído de um conto de fadas escrito nas nuvens. Uma estrada estreitinha que enverga pela direita que nos leva até à zona do lago, onde podemos escolher vários sítios para parar e apreciar a paisagem um tanto ou quanto escondida por entre as verduras – sempre com aquele nervoso miudinho como se fôssemos encontrar algo ainda mais bonito do que já vimos até esse momento. As estradas com curvas estão pintadas com inúmeras nuances de verde e amarelo, com o sol a trespassar por entre as copas que se debruçam levemente para a estrada. Um quadro naturalista que fica na memória, quase como se fosse uma antevisão da beleza que encontramos quando chegamos ao lago.

Snagov é uma reserva natural e está intimamente aconchegada por duas áreas verdes: lago Snagov e floresta Snagov. Estas duas áreas são protegidas tanto para a fauna como flora. O lago é protegido pela Aria Naturală Protejată Lacul Snagov (ANPLS) e a floresta é o que resta da grande floresta Vlasia (Codrii Vlăsiei). Com vários tipos de pássaros, coelhos, porco-espinhos ou até veados, e mais de quinze espécies de peixes, a biodiversidade da área é surpreendentemente formada por quatro mil e duzentas espécies de fauna e flora.

O lago tem cerca de cinco metros de profundidade mas tem zonas onde atinge o seu máximo, nove longos metros, sendo considerado o lago mais profundo da área plana da Roménia. Tem um comprimento de trinta e dois quilómetros, uma superfície de quase seis quilómetros quadrados e cerca de cento e cinquenta hectares.

O palácio Snagov é uma das atracções do lago. Chamamos-lhe palácio embora já não seja (depois da revolução a família real não reclamou o espaço). É actualmente um local que se pode alugar para casamentos, conferências ou outro tipo de eventos. Foi construído no início dos anos 30 para o príncipe Nicolai da Roménia e reconstruído nos anos 80 por Nicolae Ceauşescu.

O palácio tem um belíssimo jardim com fontes, flores e espaços de lazer propícios para relaxar e nos absorvermos na tranquilidade do lago. É um espaço romântico, sem qualquer sombra de dúvida, perfeito para um fim de semana a celebrar o amor. No dia em que visitei o lago, presenciei com alegria a um casamento: os noivos a tirarem fotografias à beira da água, alguns convidados a deliciarem-se com a suave brisa que dançava no ar, uns a abanarem-se com leques porque não aguentavam o calor, outros a brindarem aos noivos e ao amor eterno.

Existe, na realidade, um ambiente que nos envolve numa atmosfera romântica, e não apenas por causa do palácio. Sente-se por toda a zona do lago. Os nenúfares a flutuar à superfície, os chorões a acariciarem a água ao de leve, a paisagem ampla que faz expandir os nossos corações, a ondulação do lago a acompanhar o lento movimento do sol até ele desaparecer entre as árvores do outro lado da margem. Quando chega o momento dele se pôr, a luz dourada ilumina a água e esta reflete-nos na pele, sentimo-nos luzidios por tanta beleza transcendente e uma paz que reina no ar.

Perto do palácio existe o mosteiro Snagov, situado numa pequena ilha perto do estádio de Snagov. No meio da ilha encontra-se este espaço sagrado que só é acessível por barco, onde se depositam orações e actos de fé, e onde a conexão com Deus aumenta. Diz-se (sem certezas) que foi neste mosteiro que foi colocado o corpo decapitado de Vlad Țepeș, o famoso Drácula, depois de ter sido assassinado.

A vida de Snagov

Para além do palácio e do mosteiro, Snagov é um espaço com vida e movimento. No dia em que mergulhei na profundidade das suas águas, a agitação dentro e fora d’água fazia-se sentir. No manto azul circulavam motas de água, barcos a motor, wakeboards, caiaques, boias aquáticas, canoas, gaivotas para dar aos pedais… uma animação que se sentia mesmo para os que assistiam a todos estes desportos aquáticos do restaurante, a observar na esplanada enquanto se deliciavam à hora da refeição.

E quando se salta do paredão e se mergulha na água… mais uma surpresa! Está quente. Está tão quente que quase não refresca como deve ser. Eu, como alfacinha de gema, não cresci perto de lagos, não tenho a cultura nem o hábito de os explorar (até porque em Portugal temos o nosso querido oceano Atlântico – e com ele perto de nós, quem precisa de lagos?). Isto faz com que, na verdade, eu seja sempre surpreendida por pormenores que, para o cidadão romeno comum, já não são nada de extraordinário ou de causar espanto.

A maior parte das vezes é isto que acontece quando vivemos perto de uma área que todos admiram, e como estamos tão habituados a olhar para ela e a viver ao seu lado diariamente, esquecemo-nos de a admirar e de nos relembrar da sua beleza. Foi esta a minha reacção quando fui ao lago Snagov e exprimi o meu tremendo encanto por aquele espaço, que não era claramente partilhada pelos romenos que se encontravam comigo. Também eles se habituaram à beleza do lago, já sem sentir verdadeiramente a sua estonteante venustidade.

Durante o passeio pela estrada que vai desaguar a Snagov consegue logo ver-se o início do lago – aquele que é o melhor início de todos. Um manto de nenúfares, uns desabrochados, outros por desabrochar, um extenso manto de flores de lótus cor de rosa a receber energia solar, calmamente, no melhor habitat possível para o seu crescimento. Meio escondidos sem o alcance da mão do homem, uma autêntica obra de arte oculta e resguardada – espero eu – para toda a eternidade. Nunca tinha visto nada tão puramente belo numa paisagem natural, tão harmoniosamente perfeito, e ainda para mais tão perto de uma capital.

Foi o início da paisagem de Snagov que me derreteu o coração como manteiga quente nas torradas, foi o decorrer do dia no lago que me fez expandir a consciência e ser absorvida pela beleza que me rodeava como se fosse parte dela, foi no final da tarde o sol a despedir-se de mim com um “até já” inesquecível que me fez querer regressar a este paraíso…

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Texto e fotografias de Mariana Colombo.

Sobre a Mariana:

Desde que me lembro que sou apaixonada pela escrita e pela comunicação. Quando terminei o meu curso de Ciências da Comunicação, em Lisboa, soube que o meu futuro iria ser como escritora. E como tenho um fascínio pelo desconhecido e pela descoberta, viajo sempre que posso, juntando a escrita às minhas viagens. Foi numa viagem à Roménia onde me apaixonei pelo país, pelas pessoas e pela tradição. E resolvi ficar.

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